PCC e CV podem se encaixar na classificação de cartéis terroristas proposta por Trump

A Gazeta Popular
294.4k Visualizações
Tempo de Leitura: 6 Minutos
- ADS -
Ad image

O republicano Donald Trump retornou ao poder como presidente dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (20), em guerra contra organizações criminosas e ao terrorismo. Logo após a posse, ele assinou uma ordem executiva na qual classifica cartéis de drogas, sem especificar quais, como organizações terroristas estrangeiras. Organizações criminosas brasileiras – como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) – têm características técnicas similares aos dos cartéis e por isso podem entrar na lista.

A lista de cartéis que ganharão o rótulo de terroristas só deve ficar pronta em duas semanas. Mas analistas dizem que a medida pode afetar não apenas a criminalidade interna e a do vizinho, o México, mas também países da América do Sul. Essas nações estão entre as grandes produtoras de cocaína e têm importantes grupos criminosos responsáveis pela disseminação da droga pelo mundo.

Os cartéis de droga são organizações criminosas que controlam a produção, distribuição e comercialização de substâncias ilegais, como cocaína, maconha e outros entorpecentes. Essas organizações operam de forma estruturada e, no caso das brasileiras, em nível internacional. Elas são responsáveis por parte expressiva do tráfico para outros continentes.

Além de gerenciar o transporte e a venda de drogas, os cartéis também costumam se envolver em atividades criminosas, como lavagem de dinheiro, extorsão e violência, mantendo o controle sobre suas rotas e mercados, além de influenciar a política e a segurança em várias regiões.

Os cartéis se envolveram em uma campanha de violência e terror em todo o Hemisfério Ocidental, que não apenas desestabilizou países com importância significativa para nossos interesses nacionais, mas também inundou os Estados Unidos com drogas mortais, criminosos violentos e gangues cruéis, diz um trecho da ordem assinada por Trump.

Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, as organizações criminosas brasileiras já se enquadram em especificações de cartéis e células terroristas, apesar do não reconhecimento como tal internamente.

Contudo, não está claro ainda se a inclusão de cartéis na lista de organizações terroristas anunciada por Trump vai levar em conta apenas critérios técnicos ou também políticos, como o impacto dessas organizações nos Estados Unidos.

Atentados a bomba e assassinatos podem justificar enquadramento de facções como terroristas
Por ora nenhum grupo criminoso foi nomeado por Trump para a escala de terroristas, mas o governo americano criou um grupo de trabalho que deve fechar uma lista de facções nos próximos 14 dias.

Segundo o delegado da Polícia Federal Marco Smith, que investiga a atuação de organizações criminosas na região da fronteira entre o Brasil e Paraguai, facções com como PCC e CV já podem se encaixar nos dois eixos: cartel e terrorismo.

“São vários atendados, assassinatos de um juiz e de rivais, de outras autoridades, explosões a bomba, inclusive em fórum [sedes do Judiciário]. São atos tipicamente terroristas”, disse Smith. Ele lembrou ainda a infiltração dessas organizações em núcleos políticos para ter espaço no poder formal do Estado.

O PCC aparece em relatórios do Drug Enforcement Administration (DEA), a Administração de Repressão às Drogas, nos Estados Unidos, como um dos responsáveis pelo envio de cocaína ao país a partir de suas parcerias com os cartéis mexicanos. Smith avalia que, no contexto de cartel, a facção brasileira se destaca por sua organização hierárquica, domínio de território e rotas de tráfico de drogas, infiltração estatal e atuação internacional com seu avanço aos Estados Unidos.

O PCC tem cerca de 42 mil faccionados e mil deles estão em outros países, segundo levantamento do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Parte dos que vive fora do país foi para os Estados Unidos como imigrante ilegal. Eles são conhecidos pela facção e autoridades em segurança pública como “soldados” do crime.

Os membros do PCC passaram a entrar nos Estados Unidos com os objetivos de fugir da justiça brasileira, de fazer lavagem de dinheiro à organização criminosa e de realizar tráfico de armas para o Brasil.

A organização criminosa tenta avançar com o mercado da cocaína aos EUA, ainda que o movimento ocorra em pequena escala com rotas de tráfico controladas pelos cartéis mexicanos.

Serviços de inteligência dos EUA têm identificado um número cada vez maior de membros da organização criminosa brasileira, que poderá ser enquadrada como terrorista, entrando ilegalmente no país nos últimos anos. Investigações da Polícia Federal e do governo dos EUA revelaram que Miami, na Flórida, aparece como uma das regiões preferidas. Mas há registros da presença de criminosos em Massachusetts, cuja capital é Boston, e no estado da Pensilvânia, onde vivem muitos brasileiros.

A unidade de Operação de Fiscalização e Remoção (ERO, na sigla em inglês), do governo americano, já vinha enviado relatórios às autoridades brasileiras sobre um elevado número de faccionados presos na região de Boston, em Massachusetts. Todos estão sendo deportados ao Brasil. “Esses relatórios certamente serão utilizados para mapear a presença e concentração desses criminosos em território americano”, completa o delegado.