Depois de um primeiro turno com vitória histórica da direita, no último dia 30 de junho, a divulgação das projeções do segundo turno da eleição legislativa na França, neste domingo (7), a maioria de votos para foi para a coligação de partidos de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP).
O segundo maior número de cadeiras no parlamento deve ficar com a Agrupação Nacional, coligação do presidente Emmanuel Macron. Em terceiro, o Reagrupamento Nacional (RN), liderado pela direita Marine Le Pen.
A França, que não tem voto obrigatório, registrou neste domingo o maior comparecimento às urnas em eleições legislativas das últimas quatro décadas.
Tática da retirada de candidaturas
Além disso, para a cientista política francesa Florence Poznanski, “esse resultado só foi possível porque houve o processo das desistências”.
Para evitar que o RN ocupasse mais cadeiras no parlamento, mais de 200 candidatos de centro e de esquerda se retiraram da disputa para concentrar os votos nos mais bem colocados. Assim, em distritos eleitorais onde havia três candidatos, ficaram apenas dois. Os eleitores contrários à direita concentraram seus votos em uma única opção.
“Foi inclusive por isso que a coligação de Macron teve um resultado muito melhor do que no primeiro turno. Porque a esquerda desistiu em vários distritos”, aponta Florence.
“Esse resultado mostra que o povo teve uma grande mobilização para as pessoas votarem. O que não é fácil, porque se você vota para um candidato de esquerda, você não vai facilmente votar em um candidato macronista. E vice-versa. São blocos políticos realmente distintos. Mas muita gente se mobilizou para impedir o RN”, descreve Poznanski.
Quem será primeiro-ministro francês
Com o resultado eleitoral, o primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, anunciou que deixará o cargo na segunda-feira.
A próxima pessoa a assumir o posto precisa ser indicada com mais da metade dos votos da Câmara. No parlamento francês, composto por 577 deputados, a maioria absoluta depende de 289 cadeiras. Segundo as projeções nenhum dos blocos políticos alcançou este número e, assim, os próximos dias serão de intensas negociações.
“Agora é ver o que vai acontecer. O que a gente sabe é que Jordan Bardella, do Reagrupamento Nacional, não vai ser primeiro-ministro. E, no centro, quem tem a capacidade de negociação continuam sendo os macronistas. Porque eles podem permitir a um dos campos a construção de uma maioria governamental”, caracteriza Florence.
“A Nova Frente Popular, a esquerda, está em posição favorável para negociar, porém não tem votos suficientes para construir essa maioria sozinha. Essa é a grande dificuldade”, afirma a cientista política.
“Representantes das várias forças políticas de esquerda já apresentaram suas condições em termos de programa. Principalmente as prorrogações dos votos sobre a aposentadoria e de uma série de medidas que o governo Macron implementou”, ilustra Poznanski. “Porém, inevitavelmente, vão ter que negociar com setores macronistas”, diz ela.
“Há dúvidas se todas as forças políticas da Nova Frente Popular vão aceitar governar. Provavelmente, terão posturas distintas”, complementa.